HBO Max Remove Últimos Clássicos da Cartoon Network do Catálogo

Durante anos, a HBO Max foi o refúgio perfeito para os órfãos da televisão aberta dos anos 90 e 2000. Com a promessa de reunir em um só lugar os maiores sucessos animados da história da Cartoon Network, a plataforma conseguiu algo raro no mercado de streaming: ser sinônimo de memória afetiva.

Mas o que começou como um santuário da nostalgia, hoje chega ao fim. Com a remoção de Coragem, o Cão Covarde no início do verão norte-americano, a HBO Max apagou o último resquício de sua biblioteca original de desenhos clássicos da Cartoon Network. Agora, nenhum título anterior a 2017 está disponível na plataforma.

E o impacto vai além de um simples catálogo. Trata-se da ruptura final de um vínculo emocional com uma geração inteira.

O Catálogo que Moldou Gerações

Entre os títulos que já fizeram parte do acervo estavam O Laboratório de Dexter, Meninas Superpoderosas, A Vaca e o Frango, Du, Dudu e Edu, Johnny Bravo, Samurai Jack, Ben 10, Apenas um Show, Hora de Aventura e tantos outros que definiram o que foi a programação infantil e juvenil por mais de duas décadas.

Esses conteúdos não apenas entretiam: moldavam imaginários, formavam caráter e até influenciavam carreiras criativas. Eram obras que transitavam entre o bizarro e o genial, e que tinham coragem de ser diferentes — algo raro no mercado atual, cada vez mais seguro e formulaico.

Onde Foram Parar os Clássicos?

Com as sucessivas reestruturações internas da Warner Bros. Discovery, a biblioteca da HBO Max começou a encolher lentamente. O que parecia uma manutenção comum de licenças se revelou, com o tempo, uma estratégia clara de enxugamento de custos e redirecionamento de público-alvo.

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Hoje, apenas Hora de Aventura (lançada em 2010, mas ainda em atividade com spin-offs e filmes) permanece disponível, e por pouco. Ela só sobrevive por conta da produção de Fionna and Cake, sua série derivada, e de um novo longa-metragem em andamento.

Do restante, restaram apenas alguns títulos de Scooby-Doo, via Boomerang, mas mesmo esse acervo vem sendo gradualmente reduzido.

Uma Perda Irrecuperável para a Animação

Não é exagero afirmar que a HBO Max, como espaço de preservação cultural da animação infantil, praticamente morreu. A plataforma, que um dia foi celebrada por entregar à audiência o que a TV a cabo dos anos 2000 havia deixado para trás, agora se volta quase exclusivamente a conteúdos live-action e reality shows.

O bloco Checkered Past, que trazia os clássicos da CN de volta à televisão, também foi cancelado. E a divisão entre licenciamento para streaming e televisão tradicional só fragmenta ainda mais o acesso a essas obras.

O Futuro da Nostalgia?

Há projetos em andamento. Um reboot de As Meninas Superpoderosas. Um revival de Apenas um Show. Um novo filme de Hora de Aventura. Mas tudo isso soa menos como uma aposta criativa e mais como capitalização tardia sobre a nostalgia.

É irônico pensar que, em um momento de ouro da cultura retrô, em que o público clama por revisitas ao passado, as empresas responsáveis por preservar esse passado optam por apagá-lo.

A Memória Coletiva em Perigo

A perda vai além do entretenimento. Com a remoção desses conteúdos das principais plataformas legais, o risco é que a única forma de acesso passe a ser a pirataria ou os uploads não oficiais em sites como o YouTube.

A pergunta que fica é: se a infância de milhões agora não está mais disponível nos meios oficiais, quem vai preservar a memória cultural desses desenhos? E mais: por que uma empresa abriria mão de algo com tanto valor emocional e histórico?

Em tempos de excesso de conteúdo e falta de identidade, talvez o que nos faltava mesmo fosse poder voltar para casa depois da escola e reencontrar Dexter no laboratório, o Coragem gritando de medo, ou a Blossom, a Bubbles e a Docinho salvando o dia… de novo.

Fonte: ComicBook

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