A Trilogia dos Dólares, dirigida por Sergio Leone e eternizada pelo olhar gelado de Clint Eastwood, continua ecoando no cinema e na cultura pop décadas depois. Mas pouca gente sabe que o Homem Sem Nome não parou no último disparo do terceiro filme — na verdade, ele seguiu sua caminhada poeirenta nos quadrinhos da Dynamite Entertainment, a mesma editora responsável por reviver outros clássicos como O Cavaleiro Solitário.
A seguir: como esse universo cresceu nos gibis e por que essa expansão chamou a atenção de fãs do Faroeste.
O faroeste que virou divisor de águas
A trilogia começou em 1965 com Por um Punhado de Dólares, quando Eastwood surgiu como o pistoleiro calado, frio e estrategista — o tipo de personagem que resolve tudo no olhar antes do gatilho.
Ele chega ao vilarejo de San Miguel, encontra duas facções corruptas disputando o poder e faz o que todo bom “empreendedor do Velho Oeste” faria: explora o conflito para lucrar.
Claro, isso acaba virando uma espiral de violência, vingança e tiros que redefiniram o gênero.
A saga seguiu com Por uns Dólares a Mais e encerrou com o clássico Três Homens em Conflito. Leone fez história com:
- direção estilizada
- o ritmo quase musical
- a trilha icônica de Ennio Morricone
- e a estética que enterrou de vez o faroeste clássico e inaugurou o “faroeste moderno”
Com o fim do Código Hays, Hollywood pôde mostrar sangue, ambiguidade moral e anti-heróis — e Eastwood virou lenda.
Dynamite Entertainment leva o pistoleiro para os quadrinhos
Em 2008, a Dynamite decidiu continuar oficialmente a história no formato que Leone praticamente flertava o tempo todo: HQ.
A série O Homem Sem Nome, escrita por Christos Gage e desenhada por Wellington Diaz, começa logo depois de Três Homens em Conflito: o protagonista foge após explodir a ponte de Branston e levar consigo uma bela quantia de ouro confederado.
No caminho:
- encontra um sacerdote morrendo no deserto
- descobre que a missão religiosa que o ajudou no passado está em perigo
- reencontra velhos aliados como Tuco
- e encara novos cenários do Oeste selvagem
Em 2009, Chuck Dixon lançou The Good, the Bad and the Ugly — mantendo o tom do cinema:
pistoleiros, recompensas e decisões morais que nunca são 100% certas.
Por que o faroeste de Leone combina tanto com HQ?
O documentário Sergio Leone: The Man Who Invented America (2022) traz um ponto essencial. O quadrinista Frank Miller, criador de Sin City, explica o motivo:
“A edição acelerada, os closes intensos, os figurinos marcantes e os enquadramentos épicos sempre fizeram os filmes parecerem histórias em quadrinhos em movimento.”
Traduzindo: os filmes já eram praticamente quadrinhos — só faltava colocar balão de fala.
Por isso a adaptação funcionou tão bem. A Dynamite percebeu e abraçou o faroeste como poucos, mantendo vivo um gênero que parece condenado a morrer, mas sempre volta igual ao Clint Eastwood: calmo, letal e sem dizer uma palavra a mais.


